domingo, 13 de março de 2011

Especialista adverte: A fiscalização é insuficiente

Para especialistas, chuva e aumento da frota não explicam número de mortes nas estradas
Alex Rodrigues
Da Agência Brasil
Em Brasília



Estradas federais tiveram 213 mortes durante o Carnaval, um aumento de 49%
A imprudência, a chuva e a quantidade crescente de veículos nas estradas brasileiras
contribuíram para o aumento de 47,9% no número de mortos nas estradas federais
durante o Carnaval deste ano, mas não são as únicas causas da tragédia que se tornou
o trânsito brasileiro. A opinião é de especialistas ouvidos pela Agência Brasil logo
após a divulgação, hoje (10), do balanço final da operação da Polícia Rodoviária
Federal (PRF).

Para o pesquisador do Centro de Formação em Transportes da Universidade de Brasília
(UnB) Flávio Dias, a legislação de trânsito brasileira precisa ser modernizada,
principalmente no que diz respeito à responsabilização do Poder Público pelos
acidentes de trânsito, a exemplo do que já ocorre em países como Chile, Argentina,
Estados Unidos e Canadá.

“Lógico que há motoristas imprudentes, mas em um país com tantas estradas mal
projetadas, pessimamente pavimentadas e mal sinalizadas, o que ninguém discute é a
responsabilidade do Poder Público. Em países mais sérios, o governo é o primeiro a
responder pelos acidentes e, por isso mesmo, os governantes tratam a questão com
maior seriedade”, afirmou Dias à Agência Brasil.

Dias concorda que, em tese, o aumento da frota de veículos implica em um maior risco
de acidentes. Para ele, contudo, isso só confirma que as leis brasileiras necessitam
ser revistas com a participação de especialistas. “Existem soluções para resolver o
problema, mas os governantes não atentam para elas."

Professor do Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia
Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Orlando Fontes Lima Júnior
concorda que, quanto mais carros houver nas estradas, maior será a probabilidade de
acidentes, principalmente em dias de chuva, como foram os do último Carnaval. Para
ele, no entanto, isso não é suficiente para explicar o elevado número de mortes nas
estradas brasileiras.

“A morte está mais relacionada ao atendimento médico rodoviário que é
disponibilizado. Tanto que, logo após a privatização de algumas rodovias, o número
de mortos nestas estradas diminuiu”, disse Fontes.

Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito da Universidade
de São Paulo (Nest-USP), professor Antonio Clóvis Pinto Ferraz, quando considerada a
proporção entre quilômetro rodado e número de mortes, a situação brasileira "é uma
tragédia", chegando a superar em 14 vezes o mesmo resultado obtido por países
desenvolvidos.

“A fiscalização é insuficiente, os valores das multas são pequenos e não estamos
investindo o suficiente em educação para o trânsito. Deveria ser criada uma agência
nacional para cuidar especificamente da segurança no trânsito. Porque os órgãos que
hoje cuidam do tema não o estão fazendo adequadamente”, criticou Ferraz.

A Agência Brasil procurou o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para
comentar as críticas dos especialistas, mas ainda não obteve retorno.

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