sexta-feira, 11 de março de 2011

TEXTO DO SINDPRFCE

CARNAVAL SANGRENTO!
Data: 10.03.2011 90 visualizações
SINDPRF-CE - 10 de março de 2011
CARNAVAL SANGRENTO!

Quebrar recordes parece ser um dos carros chefes da atual administração do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, lamentavelmente nem todos os recordes quebrados são comemoráveis.

Não faz muito tempo em que a atual administração bateu o recorde de um milhão de acidentes, agora bate mais um, o do carnaval mais violento da história das rodovias federais. Uma mórbida curiosidade assola meu íntimo, que é sobre a possível explicação por tamanha barbárie ocorrida neste feriado.

Não sei que explicação os estudiosos que nos dirigem darão, imagino, porém tenho algumas explicações e dados interessantes que devem ser analisados para que possamos chegar a uma conclusão óbvia, que direi ao final.

Há alguns meses atrás nascia uma nova metodologia de aferição do trabalho do policial rodoviário federal da atividade fim. Destaco aqui a avaliação do trabalho da atividade fim, pois a administração nunca fora legalmente avaliada, somente pelos altíssimos índices de rejeição do efetivo. A portaria 030, a mais nova “espertise” da administração atual, priorizava a quantidade de abordagens feitas, em detrimento da qualidade da abordagem ou de seus resultados. Há determinação para um número mínimo de abordagens e testes de etilômetros a serem feitos, independente de haver sinais de embriaguez.

Com essa ordem para a realização de um número mínimo de abordagens, aquela análise policial, a seleção dos veículos a serem abordados pelo policial deixou de ser feita, pois a palavra de ordem é número e não seletividade. Havendo seletividade, ao fim do plantão o policial que trabalha em busca de resultados, pode não alcançar sua meta de abordagens, ou ficar muito aquém de outros policiais que abordarão um número bem maior de veículos sem nenhum critério.

A sociedade tem pequena parte de culpa nesta questão, pois ao se priorizar a qualidade da abordagem, no sentido de procurar prisões e motoristas com grande possibilidade de cometimento de infrações, qualquer órgão de trânsito é duramente criticado com o rótulo de “indústria da multa”! Uma administração fraca aliada a críticas neste sentido procurou outros métodos para que se pudesse avaliar o trabalho do policial, priorizando a quantidade de abordagem.

Porém a maior parte desta conta deve ser creditada a uma administração ineficiente, distanciada da atividade fim, sem liderança, antipática; dentre outras características.

É um absurdo que se crie um método de avaliação que tolha o bom e velho “tino policial”, fazendo que o policial se torne um recenseador das rodovias. O resultado deste desastre é o maior índice de vitimas fatais no feriado de carnaval da história do Departamento de Polícia Rodoviária Federal.

Muitas questões são alegadas pelos dirigentes do DPRF como: chuva, imprudência dos motoristas, aumento da frota de veículos... e podemos contra argumentar todas elas.

Segundo estatísticas do próprio DPRF, a maior parte dos acidentes ocorre em pistas retas e em dias claros. Com a chuva, o motorista aumenta a atenção, anda mais devagar, diminuindo assim o risco de acidente. Acho até que devemos agradecer a chuva neste carnaval, pois o resultado poderia ser mais desastroso.

Qualquer órgão de fiscalização de trânsito existe para fazer cumprir a lei, para minimizar os efeitos da imprudência dos motoristas em relação às infrações de circulação. Se a fiscalização não está atingindo este objetivo, ou os policiais não estão trabalhando de maneira correta, ou a maneira de trabalhar que lhes foi imposta é ineficiente.

Os números apresentados pelo departamento mostram que as metas de abordagem foram ultrapassadas em muito, o que nos reafirma a ineficiência de uma quantidade de abordagem em detrimento à seletividade da abordagem, amplamente difundida pelo efetivo que trabalha na atividade fim.

O aumento da frota também é um fator que poderia implicar em aumento do número de acidentes, porém os acidentes aumentaram bem mais do que o índice de crescimento da frota e o crescimento do efetivo não acompanhou nenhum dos dois índices! Hoje temos em torno de 4000 vagas em nosso quadro, pela ineficiência na realização de concursos. Temos um concurso parado por suspeitas de fraude com a contratação sem licitação de uma empresa que já esteve envolvida em várias outras situações suspeitas.

O resultado deste desastre em nossa administração são os desastres ocorridos em nossas rodovias federais.

Gostaria de creditar aqui também, parte da culpa em quem apoia os administradores que aí estão. A força política que sustenta administradores ineficientes também tem o sangue das vítimas inocentes em suas mãos. Pois os acordos obscuros que são feitos para a manutenção de pessoas tão despreparadas à frente de um órgão de segurança pública devem ter uma razão, porém esta passa longe do interesse público.





Relato pessoal sobre os dias de plantão durante o Carnaval e as planilhas da portaria 030.



Mais um dia de trabalho, mais um plantão em nossas rodovias federais. Sempre fui um policial que priorizava o resultado em minhas abordagens. São critérios subjetivos utilizados na seleção dos veículos a serem abordados, de foro íntimo que não vem ao caso explicitar. A verdade é que os bons policiais têm seus critérios subjetivos, baseados em um misto de experiências e intuição. Não há como se aferir experiência e intuição a não ser pelo resultado do trabalho de um policial, seja com prisões ou com multas aplicadas.

Sempre fui um crítico do método de avaliação implantado no DPRF pela portaria 030 e me recusava a abordar aleatoriamente só para criar números para ser apresentados por teóricos para satisfação de gestores que não tem a mínima noção do trabalho da atividade fim.

O resultado da minha recusa era abordagens quase sempre com algum tipo de resultado. Mesmo com baixo numero de abordagens registradas, os resultados das abordagens realizadas pela minha equipe sempre nos colocaram entre os policiais mais produtivos da minha delegacia e superintendência. Tal fato se aplicava à minha equipe, onde coadunávamos do mesmo pensamento e obtínhamos os mesmos resultados.

Com a operação carnaval em questão, o novo chefe da delegacia nos solicitou que déssemos uma atenção especial à aplicação do etilômetros nas abordagens e realizássemos um esforço a mais para registrar maior quantidade de veículos abordados. Além de ser contra o método de avaliação, também sou contra o uso do etilômetros indiscriminadamente, como foi imposto aos chefes de delegacia e ao efetivo da atividade fim, porém a equipe chegou a um consenso para que trabalhássemos da maneira que estava nos sendo imposta pelo sistema criado por nossos gestores maiores e déssemos uma resposta positiva ao novo chefe da delegacia, que tem realizado um bom trabalho com o que lhe é disponibilizado.

Foi citado por um dos colegas que analisou o trabalho das outras equipes que estávamos bem abaixo dos registros de abordagens apresentada por outras equipes e tal fato poderia nos prejudicar nas avaliações e na manutenção da equipe.

Assim se deu nosso engajamento tardio no preenchimento da planilha, conforme imposição do departamento.

Não selecionar os veículos abordados me causava frustração, pois ao se iniciar uma abordagem, não deveríamos iniciar outra sem que a primeira terminasse e ao ver um veículo que gostaria de abordar, passando enquanto abordava outro só por abordar, me deixava frustrado.

O resultado de nossa ação foi que nos igualamos às outras equipes no número de abordagens, mesmo que o número de prisões e multas tenha diminuído. Há que se falar na profunda frustração externada ao chefe da delegacia, que se fez presente ao término do plantão, com o método utilizado que tirava do policial a maior arma que possuíamos, a inteligência e a intuição.

Atualmente fazemos um policiamento burro e ineficiente. Com os bons policiais sendo anulados por todo o Brasil neste carnaval, o resultado não poderia ser diferente.

Com isto resta demonstrado que a determinação de abordar foi cumprida pelo efetivo, resta saber se foi o melhor método de trabalho imposto pela Direção Geral. Os resultados falam por si.

Alexandre de Oliveira Azevedo

Diretor Jurídico do SINDPRF/CE

http://www.sindprfce.com.br/artigos.php?ident=133

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