sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lições de quem está anos-luz à nossa frente...


As conversas com os colegas mais antigos do DPF nos permitem desenhar um pequeno histórico do movimento sindical na Polícia Federal:
- Anos 40 e 50: os policiais da antiga capital federal (Rio de Janeiro) são “convidados” a se mudar pra Brasília e, juntamente com os GEBs (Guarda Especial de Brasília), compõem o início da Polícia Federal. Não são permitidos sindicatos de policiais. Os policiais, basicamente, possuíam dois direitos:
1º DIREITO – Não ter nenhum direito.
2º DIREITO – Não abusar do 1º direito.
- Anos 60 e 70: os delegados de polícia se empolgam com as práticas militares e exigem, dentre outras coisas, que os seus subordinados levantem-se a cada vez que uma “autoridade policial” entra na sala. Ainda não é permitida a criação de sindicatos de policiais. Por outro lado, é acrescentado o 3º direito:
3º DIREITO – Ser punido, sem direito a defesa, de acordo com o humor do chefe.
- Anos 80: a Constituição Federal de 1988 permitiu a criação dos sindicatos de servidores da Polícia Federal (SINPEFs). A remuneração era vergonhosa. Alguns colegas (juntamente com suas esposas e filhos) dividiam casas com outros policiais, pois não havia grana para pagar aluguel e a comida do mês inteiro ao mesmo tempo. Os SINPEFs são criados e, rapidamente, alcançam a quase totalidade do efetivo. Afinal, A MISÉRIA UNE! Os sindicatos direcionam seus esforços para o aumento da remuneração: equiparação com isso, aumento daquilo, gratificação disso e por aí vai... As assembléias são sempre lotadas e “o pau canta”, pois os colegas têm um nível de politização e mobilização muito elevado. Alguns presidentes de SINPEFs rifam bodes (dentre outras peripécias) para conseguir participar das ações da FENAPEF em Brasília.
- Anos 90: os sindicatos e a FENAPEF direcionam os canhões para “$$$ que já passaram”. Todas as possibilidades de remunerações e equiparações são exploradas (com resultados que repercutem muito tempo depois, por conta da morosidade do Judiciário). A participação nas AGEs ainda é elevada (nesse período as AGEs e greves tinham a participação de quase 100% dos sindicalizados). Foi o momento mais forte do sindicalismo!! As greves são reprimidas pelo Exército, que “invade nossa casa” na marra. Em 1996, depois de uma trabalho intenso dos sindicatos e da FENAPEF, passa-se a exigir nível superior para o ingresso em todos os cargos policiais. O salário não é bom, mas também não é mais uma tragédia.
- Anos 2000: o poder dos chefes é direcionado para a abertura de PADs e IPLs contra seus perseguidos... Os SINPEFs se capacitam mais nos aspectos jurídicos, na busca da defesa dos seus filiados. As última$ grande$ açõe$ são impetrada$ pela FENAPEF. Os salários iniciais do DPF são bons o suficiente para atrair os concurseiros. No entanto, ainda não estão no nível que atenda à complexidade das nossas atribuições (não no papel, mas no mundo real).
Perfil e vocação para a atividade policial não são mais “definidores” para boa parte do efetivo de novos colegas. A participação sindical dos colegas é uma vergonha: muitos antigos questionam “tem uma grana pra mim, aí?”, enquanto muitos novos perguntam “o que o sindicato tem pra me oferecer”? Poucos se lembram da GOE dos policiais que ingressaram e não tinham direito àquela gratificação, só efetivada depois de muito trabalho, paralisações com participação de todos os policiais (e não apenas dos prejudicados).
Não há mais ‘representação sindical’! O que há agora é ‘substituição sindical’, ou seja, “vai lá presidente e briga por mim, pois eu tô ocupado, afinal eu te elegi presidente do SINPEF e esse é SEU PAPEL. Além do mais, eu também não posso correr risco de ser punido”. As AGEs são uma desgraça, pois apenas meia dúzia de colegas comparecem (salvo raras exceções)... A despolitização e desmobilização das bases impedem que movimentos paredistas (por vezes, de apenas um dia) sejam efetivos.
- Anos 2010: qual o perfil do novo movimento sindical? Qual o momento sindical atual? Há muito mais perguntas do que respostas:
- Por quê o movimento sindical no mundo inteiro vem perdendo força?
- Como mobilizar os colegas?
- O princípio sindical (o conjunto é melhor que a unidade) foi pro espaço! Os colegas se filiam somente se tiverem “um retorno imediato”. Que retorno deve ser dado aos colegas?
- A tendência é que os SINPEFs atuem nas áreas de cultura, lazer e desporto? E como ficam as ANSEFs?
- Como integrar as novas ferramentas de comunicação (MSN, fóruns virtuais, site, nextel, redes sociais, e-mails) ao movimento sindical?
- Como integrar os colegas na ação sindical (mesmo que em projetos pontuais)?
- Como eleger os nossos representantes no parlamento se os colegas não topam colaborar com a campanha do colega-candidato?
Para finalizar, eis algumas opiniões acerca dos caminhos sindicais a serem percorridos nessa década:
- A ação política/parlamentar será decisiva para o nosso sucesso. Estamos amadurecendo... Acho que estamos atrasados, pelo menos, uns 15 anos, mas vamos eleger nossos representantes no parlamento em breve. Aliás, já agora em 2010, temos chances reais de eleger dois deputados estaduais policiais federais ‘não-delegados’. Estamos em sintonia com pelo menos quatro deputados federais e um senador da República parceiros que, certamente, se reelegerão e comprarão nossas brigas no parlamento. Antes dos costumeiros questionamentos, relembro que são raríssimos os casos de deputados federais eleitos sem uma história política anterior (ressalvados os filhos e parentes de figurões políticos ou de mega-empresários).
- Além do ‘feijão-com-arroz’ (leia-se: assessoria jurídica), os SINPEFs irão agregar serviços para os seus filiados. O sindicalismo do século XXI se faz com três coisas: negociação, negociação e negociação! Não há mais espaço para o pé na porta. A grosseria fecha as portas e não o contrário. Ao mesmo tempo, não é mais possível convencer os colegas de que os mesmos devem se filiar simplesmente porque SIM... Seguro de vida, futebol, churrascos, convênios, apoio psicossocial, preparação para a aposentadoria e uma infinidade de outras ações importantes deverão ser agregadas aos portifólios de todos os os SINPEFs, visto que alguns já os fazem.
- A FENAPEF será fortalecida em vários níveis! A nossa Federação existe para liderar e coordenar o movimento sindical da Polícia Federal, SEMPRE EM PARCERIA COM OS SINPEFs. A FENAPEF irá concentrar seus esforços para as grandes questões estratégicas do DPF e de interesse dos seus servidores, ao tempo em que os SINPEFs terão a proximidade e a agilidade necessárias para a solução dos problemas e questões locais.
- Os sindicatos irão buscar incessantemente o aumento da participação dos colegas, pois essa é a principal questão a ser resolvida: ou aumentamos o nível de participação e mobilização das nossas bases ou seremos destruídos!
Não é possível CONSCIENTIZAR as pessoas. Infelizmente... Se fosse possível, abriríamos algumas cabecinhas na marreta e colocaríamos nelas algumas ideias importantes acerca de participação, mobilização e política. Assim, lembramos que a consciência sindical é um fenômeno individual. Dá um trabalho danado fazer sindicalismo hoje... Faltam pernas para se fazer tudo que é necessário. Somos quase 13 mil filiados no país e apenas 149 pessoas participam ativamente (segundo pesquisa da FENAPEF) das atividades sindicais.

Alguns dos principais motivos para essa notória desmobilização, segundo o que ouvimos pelo país inteiro, são as variantes das seguintes argumentações:
- “Estou cansado disso tudo. O DPF é assim e ponto final. Estou aqui há mais de xx anos e nada mudou”.
- “Estou de passagem e não quero me meter em confusão.”
- “Estou no estágio probatório e tenho medo de ser perseguido.”
- “Não posso me queimar com o chefe... Sabe como é... As diárias...”
- “Não concordo com as ações do sindicato”.

Considerando, e reiterando, que não é possível conscientizar as pessoas, vai uma sugestão: participem do sindicato por EGOÍSMO! Participe do sindicato para defender a principal parte do nosso corpo: o BOLSO! O nosso movimento sindical coeso nos trará uma Lei Orgânica justa e de vanguarda. O nosso movimento sindical forte nos trará uma remuneração equivalente aos servidores das agências e órgãos governamentais que ganham quase o dobro de nós. Se esses dois argumentos não lhe servirem, vai uma última sugestão: participe do sindicato, pois é sempre melhor se ferrar em grupo do que tomar paulada sozinho!

Guilherme Delgado é presidente SINPOFAC e Diretor da FENAPEF
FONTE: http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/29547

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