quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O que realmente está sendo perseguido?


Ao ler um texto oriundo da “mais nova categoria representativa” dos Inspetores da Polícia Rodoviária Federal, muitas reflexões, analogias e metáforas afloraram da mente e do coração e gostaria de compartilhá-las com os demais colegas.
Disse Jesus Cristo que “a boca fala do que está cheio o nosso coração”. Da análise do discurso das pessoas poderemos identificar seus valores, suas intenções, suas inseguranças, isto é, tudo o que realmente elas guardam dentro de si mesmas. É interessantíssimo como deixamos escapar as coisas através de nossas palavras e simbologias de argumentação.
O nobre colega que redigiu o texto intitulado “Entendendo os perseguidores do SINIPRF”, ainda que inconscientemente, deixou escapar muitas coisas que estão cravadas às reais intenções e sentimentos por trás dessa entidade.
Antes de tudo, gostaria de salientar que o presente artigo é uma análise pessoal, baseada numa observação lingüística e psicológica do texto citado e não tem a pretensão de rivalizar ou trazer dissenso com o autor do texto ou em relação à “nova entidade”; é só uma opinião (direito de expressão garantido por nosso sistema jurídico).
Na via inversa a escolhida pelo Inspetor (colega que transparece muita cultura – e devemos dar a César o que é de Cesar), gostaria de optar por usar uma linguagem simples, porque minha preocupação aqui não é a forma, a aparência, mas a essência daquilo que penso. Falo de coração aos irmãos que vestem a mesma farda cáqui que eu (talvez um dia com camisa azul, quem sabe?).
O princípio máximo que deve reger a vida humana e as relações entre as pessoas é a liberdade. O livre-arbítrio e a autodeterminação são direitos que emanam do Criador e, dentro de um sistema político racional e justo, jamais deverão tais direitos ser negados a quem quer que reclame a prerrogativa de usá-los.
Contudo, nem sempre o que nos é de direito é justo e pertinente, existe um hiato moral entre a legalidade e a legitimidade. Muitas vezes, por vislumbrar benefícios maiores e permanentes, renunciamos às nossas faculdades. A própria Administração Pública, ao analisar a pertinência de determinadas decisões, analisa a oportunidade e a conveniência de aplicar seu poder de império sobre a sociedade.
Diante disso, pergunto: considerando que, em tese, haja legalidade da criação do SINIPRF, qual a pertinência, oportunidade, conveniência de se criar uma categoria a mais dentro da Polícia Rodoviária Federal?
No seu texto, o colega Inspetor teve uma predileção por citar personagens romanos, e é aí que identificamos o primeiro traço psicológico dentro do seu discurso que nos traz preocupação.
Roma é exaltada como berço dos sistemas jurídicos modernos, mas se fizermos uma análise mais acurada das coisas, veremos que tal sociedade não pode ser parâmetro de justiça, não de justiça para todos.
O sistema jurídico vigente no Império Romano era baseado no direito e cidadania conferida SÓ PARA ALGUNS. A riqueza e opulência romana eram lastreadas no trabalho servil de uma massa de pessoas alijadas da verdadeira cidadania. Os imperadores, baseados nas histórias de VITÓRIAS PASSADAS, justificavam sua tirania e seu direito de domínio sobre os seus semelhantes. Qualquer similaridade com a PRF não é mera coincidência. Não! Não queremos uma Polícia Romana Federal! Respeitamos o passado, mas, além dos imperadores (ou seria Inspetores), há novos atores na construção da História dessa Instituição. Viver num eterno pretérito, adulando as próprias conquistas pregressas, é condenar o futuro de toda uma categoria de homens, mulheres e famílias.
Curiosamente, foram os romanos que, lavando suas mãos, levaram à cruz Jesus Cristo, pregoeiro da justiça, da liberdade, da igualdade. E, ao invés de usar as palavras esnobes e pedantes dos romanos, prefiro a simplicidade e a profundidade das palavras do Messias, que diz que “toda casa ou reino dividido contra si mesmo não subsistirá”. Palavras que possuem pertinência à situação que vivemos na PRF.
Com muita (ou muitíssima) boa vontade, não nego aos colegas o direito de criarem uma representação própria, apenas questiono a pertinência de desagregar esforços num momento tão crucial. É com lágrimas no coração que profetizo que o SINIPRF é o princípio do fim para nossa Instituição, é a trombeta inicial do Apocalipse da Polícia Rodoviária Federal. Estamos dividindo e nosso reino e casa não subsistirão.
Existe um termo que acho muito interessante: sinergia. A sinergia diz que a soma do todo é maior do que a soma das partes, isto é, os esforços separados não têm o mesmo efeito de que um esforço único realizado em comunhão plena. Na minha humilde opinião, apesar da minha juventude e pouca experiência de vida e de trabalho (frente ao Inspetor redator do texto) é o que creio que precisamos, ainda que tenhamos direito a optar por outras alternativas classistas (ou seria segregacionistas?)
Por outro lado, pensar que os outros têm inveja de si (como crê piamente o Inspetor) é, a princípio e em tese, revelar um coração cheio de arrogância e de um sentimento de superioridade. Um sábio, quando criticado, cresce em sabedoria, porque sempre vai absorver a crítica e tentar dela extrair algo bom; o pedante, quando criticado, fecha-se no seu universo de auto-suficiência e crê que tudo que contraria o que pensa é um mero atentado a sua condição de ser superior.
Somos um corpo único e talvez o que os que querem ser cabeça não tenham se dado conta é que os pés é que sustentam o corpo. A base dessa instituição está nos pés, ou seja, nas categorias mais novas e na atividade-fim. Se os pés forem diminuídos e maltratados o corpo virá a cair, sendo que, ironicamente, a parte mais afetada será a cabeça.
Melhor que as citações dos poetas romanos são as citações populares: “quando a cabeça não pensa o corpo padece”.
No fim de tudo, estão perseguindo o nosso próprio fim.

Ket Jeffson (independente da categoria, Policial Rodoviário Federal)

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