terça-feira, 8 de junho de 2010

Crônica sobre o passado, o presente e o futuro.

“Passei meu amigo, agora sou Auditor Fiscal do Trabalho! Venci, venci! Vou sair da PRF...”
Foram com estas palavras que mais um um bom policial do meu curso de formação se despediu, sem muito saudosismo, da Polícia Rodoviária Federal.
Um misto de alegria e tristeza tomou conta de mim naquele momento. Alegria por ver um amigo progredindo, e tristeza por saber que é mais um bom policial, não valorizado, que perdemos pra outras instituições. Uns hoje são delegados federais, outros auditores da Receita, alguns Oficiais da ABIN, mas todas estas trajetórias convergem em um ponto só: são colegas desiludidos, mal-correspondidos pela PRF que usaram a rejeição de sua dedicação como combustível para estudar mais e deixar a polícia o mais rápido possível.
Ao interpelar o amigo da declaração supracitada ele me disse: “Errados somos nós amigo, não “eles”. Esta instituição não tem futuro, nunca deixarão a PRF ser grande, será sempre este gigante adormecido com mentalidade de anão. Faça como eu, estude e saia um quanto antes, você tem capacidade pra isso!”
Olhei pra minha escrivaninha, vi meus livros de Direito novos, todos meus projetos e cronogamas... Naquele momento tive que escolher dentre dois caminhos: ou lutava pela instuição que meu deu tudo que tenho até hoje, ou simplesmente seria mais um apático que faria apenas a “meta” e depois meteria a cara nos livros até um dia sair de uma grande desilusão profissional.
Mas como eu falei pro meu amigo: nem sempre podemos escolher o caminho mais fácil, mais cômodo. Quão covarde seria eu se nem tentasse melhorar a minha instituição? Já quase perdi minha vida três vezes lutando por ela( duas por acidente e uma num tiroteio), e que sentido teria toda essa luta, todo esse esforço, se não fosse por algo em que não pudesse acreditar? Não meu amigo, a minha PRF não é a mesma “deles”. Antes de me entregar a apatia vou tertar fazer algo. Uma consciência tranquila não tem preço, falei pra ele.
Todas as grandes revoluções da humanidade começaram com meia dúzia de idealistas. De Cristo a Gandhi, tudo sempre começou com poucas mentes corajosas. Se olharmos pros grandes heróis da história, veremos que poucos se arriscaram no início dos movimentos revolucionários. Pegaram suas espadas, bacamartes e fuzis e se dispuseram a sacrificar suas próprias vidas por uma causa maior. Seja a independência de um país, o fim de uma ditadura ou a sobrevivência de uma filosofia religosa, o sucesso ou fracasso de qualquer movimento ideológico da história foi definido basicamente por dois fatores: coragem e persistência.
Li recentemente a biografia de William Wallace, herói da independência da Escócia. Ele entrou na briga sozinho, sua coragem encorajou meia duzia, que engajou mais uma dúzia e, de repente, um país todo brigava com o poderoso império inglês. Deu pra identificar nesta história personagens nossos: os nobres reticentes que temiam perder seus privilégios e terras, insistindo em negociar temos inegociáveis para o seu povo, o rei inglês cruel e impiedoso, a grande massa de camponeses escoceses sem rumo, que apesar de desejarem em seu âmago a liberdade da opressão inglesa, não tinham a iniciativa e a ousadia de buscá-la. Não foi supresa ver que os personagens históricos se repetem em outras faces e em outras circunstâncias...A humanidade é cíclica!
Não precisamos pegar em espadas, nem pular de um avião atrás das linhas inimigas e nem tampouco enfrentar um império gigantesco e corrermos o risco de sermos cruxificados. Mas como todos os personagens da história, temos a opção de sermos lembrados pela nossa coragem ou esquecidos pela nossa covardia. Cada PRF pode ser escritor do seu destino, e não precisamos ir pra uma outra instituição para termos orgulho e satisfação pessoal em nosso próprio trabalho.
Que nossas verdadeiras lideranças assumam seus postos e se preparem para a luta. Porque assim como falou um certo herói escocês: os homens seguem coragem, não títulos...

O PRF Filipe é bacharéu em Direito, pós-graduando em ciências penais e historiador amador.

Um comentário:

  1. Como o Felipe, estamos perdendo vários outros bons policiais... que tiveram minadas as esperanças e boas expectativas na carreira de PRF.
    Boa sorte ao colega na nova empreitada!!! e muitas forças para lutar aos que permanecem tentando tornar a Firma uma Instituição forte e reconhecedora do verdadeiro valor de seus recursos humanos!!!

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